Olhou... com o seu olhar calmo e doce. As palavras saíram suavemente e por dentro eu chorei.
Brincava a criança
Brincava a criança
Brincava a criança
Com um carro de bois.
Sentiu-se brincado
E disse, eu sou dois!
Há um brincar
E há outro a saber,
Um vê-me a brincar
E outro vê-me a ver.
Estou atrás de mim
E se volto a cabeça
Não era o que eu qu'ria
A volta só é essa...
O outro menino
Não tem pés nem mãos
Nem é pequenino
Não tem mãe ou irmãos.
E havia comigo
Por trás de onde eu estou,
Mas se volto a cabeça
Já não sei o que sou.
E o tal que eu cá tenho
E sente comigo,
Nem pai, nem padrinho,
Nem corpo ou amigo,
Tem alma cá dentro
Tem alma cá dentro
Está a ver-me sem ver,
E o carro de bois
Começa a parecer.
Fernando Pessoa - Poesias Inéditas
Fernando Pessoa - Poesias Inéditas
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4 comentários:
Bonito poema! Beijinho grande!
Não conhecia esta poema do Fernando Pessoa. Vou registar no meu caderninho!
Bom fds
Bjs
Os génios não se comenta, e Pessoa é um deles.
bjo Lidia
tenho saudades tuas
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