terça-feira, agosto 21, 2007

Remetente

Escrevo-te daquele areal que me acolheu durante vários anos. Cheguei bem. Estava na expectativa de como iria encontrar o lugar onde vivi tanta coisa com pessoas tão importantes. Vê lá!... Hoje passei novamente por uma casa onde estava sempre um cão muito giro: rafeiro, olhos tristes, gordinho - sempre que o via dava-lhe festinhas e falava com ele (ele andava em círculos continuos com a sua trela). Este ano não está lá. Bem sei que já não vinha aqui há 3 anos e que o cão estava velhote mas, de qualquer forma, o meu coração ficou apertado por perceber que morreu. Só resta a casota e a estúpida da trela que o mantinha preso. Enfim... estou a ficar mais velha e vejo que os lugares, pessoas e um simples cão também envelhecem e alguns desapareceram. É triste e, ao mesmo tempo, permite-me relativizar certos aspectos da minha vida.
Claro que há outras coisas que estão mais bonitas, arranjadas e o grande motivo para estar aqui, como sabes, são os meus sobrinhos. Recebo os seus abracinhos... Mimo é o que mais preciso. Eu dou e recebo.
Depressa percebo que as memórias são muitas e então deixo-me levar pelo som do mar. Deste quarto pequenino oiço o mar e recordo as noites de ansiedade por querer voltar a Lisboa para estar com o amor que me dediquei durante anos e encheu o meu coração. Se estou triste? Se choro? Não, não te preocupes... Chorei o que tinha a chorar no dia em que estivemos lado a lado. Apenas interiorizo (finalmente!, já não era sem tempo! - imagino-te a sorrir) que a maturidade vai-se alcançando com grandes quedas e perdas mas também com momentos como este - de grande tranquilidade e de descoberta de capacidades que, pelos vistos, sempre habitaram dentro de mim. Eu é que me iludi - sempre com a esperança de... Mas agora que compreendi que não sou amada por quem gostaria o caminho parece ser só um... o da saída.
Finjo que não sei a tua morada para te enviar cartas porque, desta forma, não receberei grandes respostas. Como me avisaste... sou eu que devo tentar responder ao turbilhão de sentimentos. Por enquanto faço este caminho sozinha porque quando há perda não é de um dia para o outro que encontramos alguém que nos acompanhe. Além disso não tenho a mínima paciência para falar sobre o assunto e explicar pela milésima vez o que se passou e o que se passa. Desta vez termino mesmo as minhas partilhas sobre o assunto. Preciso de me arrumar por dentro. Para quando? (imagino-te a franzir a testa) Não sei, mas espero que recupere rápido porque conheço-me bem e preciso de me sentir amada para viver a vida como mereço.
Da próxima vez que nos virmos tu vais abraçar-me e vais sentir que o meu coração estará mais calmo. Vais sorrir e eu sorrirei contigo. Se fico bem? Depois de tudo o que foi dito e feito? Sim, começo a ficar bem. Quando chegar o tal dia saberás reconhecê-lo uma vez que o meu olhar estará diferente e nada nem ninguém o fará entristecer.
Regresso hoje.
Ligação a Remetente em www.simemusica.blogspot.com

3 comentários:

Ana A. disse...

Fabuloso!
Deixou-me sem palavras...

SS disse...

Nem imaginas como este post me deixa feliz! Continua a tua caminhada sabendo sempre que me terás a teu lado amiga!

Dawa disse...

Texto forte que me levou às lagrimas...
Sem palavras!
Beijo